sábado, 6 de setembro de 2014

BAMFISA – FAZER O BEM OLHANDO PARA QUEM Adelmo Barbosa*

Por que existem pessoas que insistem em só querer fazer o bem? Sentem-se felizes fazendo o bem e não fazem outra coisa senão o bem?
Na tarde/noite dessa quinta-feira, dia 4 de setembro de 2014, rufaram os tambores, anunciando o desfile dos alun(inhos) da Escola Municipal Desembargador Adauto Maia, no distrito de Fátima. Digo “aluninhos” carinhosamente, por serem eles, em sua maioria, pequenos peter pans no meio das ruas, mostrando sua graça e a capacidade de seus orientadores de criar. Os orientadores criaram e eles desfilaram (literalmente) pelas ruas da bela Vila.
Foi um desfile tão espetacular, em todos os sentidos, quanto emocionante. Aqueles meninos e meninas fizeram-nos gostar do que vimos. Acompanhados pela belíssima Banda Marcial da Escola Romão Ferreira de Azevedo, do Saco do Romão, que, após comemorarem seu cinquentenário na quarta dia 3, desfilando nas estradas e rua do Povoado, não tiveram dificuldade de aceitar o convite para ajudar os pequenos futuros de Fátima a fazerem bonito para uma multidão de gente que se aglomeraram nas calçadas e ruas para ver “a banda passar”.
Esta não é uma notícia sem sentimentos. É uma crônica. E eu vou começá-la agora.
A beleza do desfile, a presença do público e a força de vontade de todos os fatimenses em fazer bonito, foi o tom que norteou todo o espetáculo. Mas um sentimento estava parado no ar, no evento grandioso. E o povo de Fátima sabia disso: A justíssima homenagem que os meninos da Banda Marcial da Igreja – a BAMFISA, iram fazer no final do desfile.
Eu conheço aqueles meninos. E sei tanto dos seus anseios quanto das dificuldades que foi colocá-los na fila. Foram meus alunos e eu sei o quanto são frívolas e apressados, tanto quanto desejosos de fazer espetáculo quando estão a fim de fazer alguma coisa.
Toda aquela rebeldia foi atenuada pelo gesto simples de uma mulher. Irmã Dionice. Freira da Congregação Filhas de Sant’Ana que aportou naquela terra longe de tudo (como eles mesmos dizem) e criou um mundo para eles. A escola para eles é uma obrigação, mas a banda é o espetáculo, o prazer, o sacerdócio. Ir à escola eles vão, mas fazem barulho excessivo. Na banda fazem barulho por prazer.
Ela deu um norte à vida deles. Ela os colocou na linha, com seu jeito meigo, simples e discreto. Fala mansa e corpo franzino. Não vestia as vestes tradicionais da Congregação. Ela misturava-se ao povo e vivia como eles. Os meninos da BAMFISA que os diga.
Irmã Dionice nos deixou de forma simbólica no início deste ano, após contrair malária na África. Por que malária? Uma doença que já pode ser curada? Por que não outra doença? Sabe-se lá por quê?
Foi dolorido quando soube. Fiquei chocado tanto pela partida dela para a Casa do Pai, quanto pela forma como partiu. Mas ela deixou um legado em Flores, mas especificamente em Fátima: a BAMFISA (Banda Marcial Filhas de Sant’Ana). Que bem poderia se chamar agora Banda Marcial Irmã Dionice. Não seria nenhuma injustiça, pelo contrário, seria uma justa homenagem a quem apostou naquelas crianças que saíam correndo da escola para ir tocar na banda. Eu mesmo confesso, coloquei muitas faltas neles e me arrependi, porque achava que eles iam para a rua para, sei lá o quê! E, de repente, os via passar tocando na BAMFISA. Muitas eu as apaguei escondido para não ser repreendido por meus superiores.
Sempre apreciei a beleza da banda, porque gosto de bandas, e, muito mais, porque era uma banda de meninos criticados o tempo todo por suas rebeldias. Mal sabíamos que ali estavam os meninos que um dia iriam homenageá-la. Eles fizeram com prazer, sem dor, sem choro. Embora eu tenha chorado, porque a conheci e os conheço.
Poderia continuar falando aqui um monte de coisas, mas não dá. Tenho que parar. Fica o sentimento de quem viu um monte de adolescentes homenageando uma freira magrinha, simples, humilde, que insistiu em fazer o bem, olhando literalmente para quem. Quem sabe, um dia, alguém tenha a ousadia de prestá-la uma homenagem como a que eles fizeram.
Mas, se isso não acontecer, não tem problema, os meninos da BAMFISA fizeram. Foi bonito, elegante, espetacular. Eles são a expressão viva de que ela existiu e fez o bem, um bem danado. Porque eu sei quem são aqueles meninos. E ela os transformou em homens e mulheres. A homenagem foi para ela, mas o espetáculo ficou para nós, em Fátima.
Vamos aplaudir a BAMFISA e agradecer a Irmã Dionice, e dizê-la do prazer que temos pelo bem que ela nos deixou através dos meninos de Fátima.
Obrigada, Irmã!



*Professor e secretário de governo.

A BAMFISA agradece as belas palavras do nosso amigo Adelmo pela a linda crônica que homenageia a nossa Irmã Dionice e nos dá os parabéns por esse trabalho que fazemos que foi fruto deixado por ela, todo  esforço da mesma  se faz presente em todos nós, hoje somos uma família porque assim ela nos ensinou, muito obrigado.  

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